Deus não é surdo

RESUMO DA NOTÍCIA

Reflexão questiona a relação entre forma e espiritualidade no louvor cristão.
"Referindo-se ao fato de que Deus está sempre ao lado de seus filhos, o Pr. Jader Oliveira, da Igreja Uniedas, um amigo de MS, tomado pela emoção diante da morte da filha, Taíza, lembrou de uma cena bíblica muito conhecida. Quando uma tempestade irrompeu no mar, os discípulos se agitaram. Jesus, dormia. Alguém até imaginou Pedro, sempre intempestivo, dando uma dura no Mestre. Mas, não era necessário gritaria naquele momento. Deus estava presente naquele ambiente. Talvez se os discípulos deitassem e se aquietassem teria sido melhor.

Uso a ilustração para lembrar de uma tese, defendida por alguns. Poderíamos chamar de "teologia do grito?". Não sei. A verdade é que alguns defendem que na adoração e na confrontação com as hostes do mal, o grito "move o coração de Deus". Certamente esse é mais um dos extremos da religiosidade atual, afinal nada é mais aceitável a Deus do que uma vida de retidão. As formas usadas para a adoração e para os "confrontos com as forças das trevas" podem ser meramente coisas do homem, não tendo relação alguma com espiritualidade ou autoridade.

Conheci um homem de Deus, já falecido, que sempre era procurado para atuar em casos de possessão. Nunca o ouvi gritar. Apenas declarava a autoridade de Cristo. E as pessoas eram libertas. Um conhecido avivalista da região norte apenas abria os lábios para invocar o nome de Deus e multidões eram quebrantadas, sem grito algum de sua parte.

Pensemos um pouco na adoração. Embora as emoções não devam jamais ser cerceadas, não é no muito pular, dançar ou gritar que ficará caracterizada sua autenticidade e aceitabilidade diante de Deus. Como referencia bíblica podemos citar o conhecido Salmo 15. No antigo testamento o adorador, ao comparecer diante do sacerdote chefe, recebia orientação quanto as condições para admissão. A condição fundamental era a retidão interior expressa em virtudes como a prática da justiça, compromisso com a verdade, não fazer mal ao próximo, não lançar injúria, desprezar o mal, honrar os que temem ao Senhor, cumprir o que se promete, não emprestar o dinheiro com usura e não aceitar suborno. As formas de adorar, portanto, ocupam um segundo plano na percepção do próprio Deus.

A grande verdade nesta discussão é que Deus não é surdo. Se um cristão quer adorá-lo com gritos, choros, expressões corporais e muitas outras formas utilizadas em nossa cultura, pode e deve fazê-lo. Mas, se não tiver um coração quebrantado e um desejo permanente de viver uma vida reta, tudo será "fogo de palha" como diz o profeta. No caso da adoração, importa que os adoradores o façam em espírito e verdade. A forma é apenas um detalhe. Na luta contra os poderes das trevas não será a intensidade do grito que fará o inimigo fugir. Ele não tem medo de rugidos, afinal a própria Bíblia diz que ele ruge como o leão. Mas, ele certamente tem medo da presença plena de Jesus no coração de um cristão que tem compromisso com a santidade. Afinal, Jesus "é o leão" da tribo de Judá, conforme dizem as Escrituras.

Vivaldo S. Melo - Em O Pantaneiro