As três dimensões do ser

RESUMO DA NOTÍCIA

A primeira epístola de João foi escrita para uma comunidade cristã que se defrontava com a heresia gnóstica do primeiro século. João procurou encorajar os seus membros a viverem uma vida coerente com a comunhão com Deus e Seu Cristo. Neste texto você pode conferir como ele trata a questão do ser, dando uma resposta a clássica pergunta da filosofia: “Quem somos?”
Em teologia aprendemos que o cristão, na realidade do aqui e do agora, está num processo que chamamos de santificação. Embora ainda pecador, mas livre do domínio absoluto do pecado, quem “está em Cristo” luta contra sua natureza pecaminosa, empenhando-se por um viver “santo”, não no sentido da inerrância, mas de procurar viver as demandas do evangelho. Se peca, arrependendo-se, tem Cristo, que intercede, numa dinâmica que culmina com o perdão. 

Em I JOÃO 3, 1-2 (se puder leia), João descreve este momento, ao empregar o advérbio “agora”. Pelo texto podemos descobrir a resposta cristã a inquirição “quem somos”.

Primeiramente, João fala do nosso ser no passado, exatamente ao dizer “agora somos filhos”, o que indica que antes “não éramos filhos de Deus”, contrariamente ao que se ouve por aí. Quem não ouviu que “todos os homens são filhos de Deus”?  Em sua carta aos Efésios, o apóstolo Paulo diz que antes de ter um relacionamento dinâmico com Cristo, vendo-o como Senhor e Salvador, o homem é “filho da ira”, andando “segundo o curso deste mundo”, ou seja, movido por suas vontades (Efésios 2.1-3). O mesmo Paulo diz que, se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas antigas já passaram”, no sentido de não exercer mais influência sobre sua vida.

Depois de falar do “ser” no passado, João fala do ser no presente: “agora somos filhos de Deus! ”. Quando deixa de andar segundo o curso deste mundo, sendo alcançado “pela graça,  se aproximando de Deus e, como um cântico, “querendo Deus”, desejando viver para Deus, o homem passa ser filho de Deus. O termo empregado por João é mesmo que se aplica para uma criança: “agora somos crianças nascidas de Deus”. João 1,12 reforça isto quando diz “mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber, os que creem no seu nome”. Lembrando que no todo as Escrituras, crer pressupõe rendição. Ou seja, não basta apenas crer no sentido de afirmar crer (Tiago nos lembra que “até os demônios creem”). É preciso, também, viver. Viver para Cristo é humanamente impossível, pois somos pecadores, se não tivermos dependência do Espírito Santo. 

Finalmente, João pensa no “ser” pensando numa dimensão futura. Por causa desta filiação no presente, concedida pela graça de Deus, pois sendo pecador o homem não pode salvar-se e nem tomar a iniciativa de caminhar na direção de Deus (Deus que toma a iniciativa de vir ao seu encontro), quem “está em Cristo”, no futuro, será semelhante a Ele. Isto acontecerá quando Jesus voltar: “Quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-lo como Ele é”, escreve João. Este versículo impõe muitas verdades, uma delas, a de que ninguém pode “ver Deus”, na realidade do hoje, o que coloca por terra muitas afirmações emocionais utilizadas para atrair pessoas  em cultos cristãos. “Não podereis ver a minha face”, foi dito a Moisés em Êxodo 33.20.  O termo “semelhante” indica que teremos, no futuro, um relacionamento com Deus no mesmo nível de Cristo, o que se constitui um grande privilégio. 

Ontem filhos da ira, hoje filhos (ainda pecadores, mas vivendo numa relação onde conhecemos a verdade e nos empenhamos para vivenciá-la), amanhã semelhantes a Jesus, quando entraremos no estágio que chamamos glorificação, com outro corpo e sem as marcas que hoje o pecado impõe sobre nós. Que essas verdades sobre o nosso ser nos impulsionem a fazermos diferença num mundo onde a maioria vive alienada de Deus. 

(Assista o vídeo correspondente em nossa sessão de vídeos)