Embora na cultura popular ganhem força no chamado “Dia do Saci”, para os brasileiros, ou Halloween, nos países anglo-saxões, lembrado em 31 de outubro, as histórias de assombração fazem parte da vida de todos, permeando o imaginário popular e deixando muita gente com os cabelos em pé quando são contados.
“Entre os peões de comitiva elas são correntes”, afirma José Ângelo Almeida Rocha, mais conhecido em Castanheira como “Cawtrim". Desde os 11 anos de idade ele trabalha com gado na estrada e quando o assunto é comentado, não hesita em se manifestar. “A coisa existe. Eu já vi, meus companheiros viram”.
Na medida em que o assunto é estimulado, histórias não faltam nos lábios do simpático e falante vaqueiro, que já chegou a percorrer até 1.200 quilômetros tocando boiada com seus parceiros. Lembra que há um rito antes dos causos serem contados, não faltando um aperitivo para “tirar um pouco da poeira”. Ou seria para espantar o medo?
Sem querer espantar ninguém, lembra que entre os cenários comuns de aparições, na região, estão a Fazenda Enco, em Juruena, e a Tutilândia, em Aripuanã. Destaca que um dia, de passagem por lá, começaram a prosear sobre assombração. Em dado momento, enquanto os demais companheiros foram buscar a tropa, um deles permaneceu deitado na plataforma do curral. Foi quando irrompeu um barulho de espora. Ao tirar o chapéu, não enxergava ninguém, embora o barulho aumentasse de intensidade. Depois do relato, houve quem se manifestasse de forma irônica, chegando a desafiar a possível assombração. À noite, quando armou a rede para dormir, foi jogado violentamente ao chão, sem conseguir visualizar qualquer pessoa. “Apavorado correu para a estrada, onde permaneceu até o dia amanhecer”, conta. Na medida em que faz seus relatos, Cawtrim dá nome aos companheiros envolvidos com as tramas. “Mas, se puderem não registrar, para deixa-los em paz, é melhor”, observa.
No mesmo cenário diz acontecer um fato comum, presenciado por vários peões: uma cadeira faz movimento e os rastros de alguém que a usa, sem que haja qualquer presença humana, pelo menos visível.
Outro fato arrepiante envolvendo sua equipe, formada por um ponteiro, um afiador, um meeiro, um chaveiro e um culateiro, ocorreu quando, dormindo dentro de um curral totalmente trancado, foram pisoteados por uma vaca, que teria aparecido do nada. Quando conseguiram focar a lanterna, o animal simplesmente desapareceu, mesmo com os portões fechados.
Sem entrar no mérito da crença ou não, Wagner Fernando, o Cowboy, que sempre recebe o amigo Cawtrim entre suas idas e vindas, lembra de uma casa que é muito citada por boiadeiros que passam pela região de Cáceres. Imponente, a construção localiza-se na antiga estrada entre aquela cidade e Cuiabá. Fica no meio do pasto e dizem que foi construída na época do café. Todos que passam por lá não conseguem dormir em seu interior, de onde saem gritos e barulhos diversos. Alguns chegam a falar em visualizações de lençóis e tochas de fogo.
Lenda ou verdade, fato é que essas histórias de assombração continuam atraindo a atenção das pessoas. Para alguns, não passam de invenção, de devaneios. Outros acreditam. Cawtrim, por exemplo, está entre esses “Na nossa vida acontece de tudo. Você não pode duvidar de nada. Eu acredito, até porque já vi e ouvi coisas que não podem ser deste mundo!”. Enquanto observa, um barulho ecoa entdre as tralhas de Wagner, sem eu ateliê. Há um breve silêncio. Até que um gato aparece. Todos riem!