A propósito da infinidade de textos sobre o Natal, nestes dias, fica evidente uma série de equívocos e polêmicas em relação a essa celebração ímpar para todos os cristãos. Daí a importância de imaginarmos que reação teria o ilustre aniversariante, caso voltasse hoje, e visitasse alguns lares.
Talvez a pergunta mais pertinente para a época seja "como temos comemorado o natal"?. Na perspectiva dos pastores ou dos magos?
Se lermos os textos bíblicos que narram os eventos relacionados ao nascimento de Jesus Cristo em conexão, vamos perceber que os pastores foram os primeiros a visitar o menino nascido em Belém. Não levaram presentes, pois tinham plena consciência da sua missão. Tiveram o privilégio de receber a informação, pelos anjos, de que ele haveria de libertar o homem das amarras do pecado e aproximá-lo de Deus. Era o Salvador.
Depois de contemplá-lo, em adoração silenciosa, saíram e proclamaram às boas novas de salvação, segundo narra o evangelho de Lucas, onde temos uma das duas únicas referências bíblicas de Jesus como Salvador.
No evangelho de Mateus temos a narrativa dos magos, que em alguns cenários são colocados, equivocadamente, no contexto da manjedoura. Eles eram da Mesopotâmia e não tinham relação direta com o povo que vivia intensamente uma expectativa messiânica, ou seja, anelava pela vinda de "Cristo", que significa Messias.
Os magos não compreendiam os detalhes e os significados mais profundos da história de Jesus, tanto que foram a Jerusalém, depois de verem a estrela indicativa de seu nascimento. Como astrólogos entenderam que a estrela diferente que aparecera nos céus, segundo narrativa de Mateus, indicava o nascimento de um rei. E desejaram adorá-lo como tal. A visita ocorreu algum tempo depois do nascimento, talvez um ano ou mais. Jesus não estava mais no estábulo. Foram eles que levaram presentes.
Há duas perspectivas diferentes de celebração a partir desses dois cenários. No caso dos pastores verifica-se um momento de adoração consciente do significado histórico da obra que o menino haveria de fazer. No segundo caso, não havia essa consciência.
É possível dizer que as mesmas posturas continuam se reproduzindo ao longo da história. E que, infelizmente, o espírito preponderante na celebração do natal é o dos magos, que, aliás, não eram reis como alguns gostam de enfatizar. Embora os presentes na cena dos magos fossem necessários para o cumprimento de uma profecia, eles acabam se constituindo num exemplo, em nossos dias, da falta de compreensão da maioria das pessoas em relação ao evento em si.
A singularização equivocada dos magos na cena do nascimento de Cristo talvez tenha dado margem, no decorrer dos tempos, a deturpação da festa de natal, marcada cada vez mais pelo simples comer e beber e pela troca de presentes, estimulada por um sistema econômico que projeta nesta época a figura hilária do "Papai Noel", que acaba sendo mais lembrado do que o próprio Cristo.
Diante desta realidade é importante que o sentido real do natal seja resgatado, sob a perspectiva da Bíblia e não conforme as tradições humanas. Os elementos nocivos da cultura mundana precisam ser extirpados da celebração do natal. E o primeiro passo é simplesmente singularizar-se a cena dos pastores.
Anula-se com isto a inserção de uma mesa farta e a troca de presentes entre as pessoas na celebração? Embora essa tendência resulte da tradição, esses elementos são positivos, pois estimulam a comunhão. No caso do natal, deve ocorrer um evento de comunhão não apenas horizontal, mas principalmente com um vínculo vertical. Afinal, celebra-se o nascimento do Salvador do mundo!
Vivaldo S. Melo - Jornalista e pastor da IPCB de Castanheira MT
Vivaldo S. Melo - Jornalista e pastor da IPCB de Castanheira MT