É possível chegar aos 104 anos com uma vida saudável, fazendo tudo que normalmente as pessoas fazem? Sim! Em Castanheira, no Bairro Santa Rita, o Seo José Francisco da Cruz é uma prova viva e talvez confirme, com sua história, algumas teses levantadas na discussão sempre atual sobre longevidade.
Natural de Patos de Minas, mas criado em Lagoa Formosa, ele nasceu em 12 de janeiro de 1920 e foi criado, como gosta de dizer, “ao modo antigo” e à base de arroz e feijão, os alimentos mais comuns no dia a dia do brasileiro.
Ao longo da vida manteve o hábito de dormir cedo, “lá pelas 19/20 horas”, e acordar cedo. “Às quatro já estou acordado”, diz, observando que faz o seu café, com o pão que ele mesmo busca da Padaria da cidade, distante há uns 2 quilômetros. Logo pela manhã faz sua primeira caminhada - a outra acontece à tarde - na verdade uma “andada pela cidade” que inclui visitar algumas lojas, onde gosta de prosear.
Com essa idade, não tem uma cuidadora. Mora só, há poucos metros do filho que também tem o seu nome, ou seja, o outro José Francisco da Cruz e da nora Odete Maria da Cruz, que intervém no seu cotidiano apenas quando fica “doentinho, geralmente uma febrinha”, como lembra a filha Maria Helena da Cruz.
Com tantas décadas de vida, vivendo longo tempo em dois séculos, ele lamenta os tempos atuais, destacando que “antigamente a vida era outra”. Um tempo, por exemplo, que ainda ouvia a legítima música sertaneja, hoje maquiada com rítmos que a descaracteriza de forma afrontosa. Mas, ele quer seguir em frente, como diz conhecida canção. "Vou muito longe ainda!".
Morando em Castanheira há mais de 40 anos, o que faz dele um pioneiro, trabalhou boa parte do tempo em Fazendas, especialmente plantando sementes. Mas lidou com a chefia de peões, como lembra Zilda Stangherlin, ex-prefeita da cidade, citando Serra Morena, Fontanillas e linha São Roque como contextos principais de suas lidas. Neste último foram mais de 30 anos.
Como não é fácil encontrar alguém com 104 anos lúcido, em forma, andando e até fazendo pequenos trabalhos em seu dia a dia - ele por exemplo passa sua roupa, faz café, faz sua comida e limpa a casa - é natural que os curiosos sempre busquem mais informações, além do costume de dormir e acordar cedo, sobre seus hábitos alimentares.
Além do arroz e feijão, que mantém na agenda desde os tempos remotos, ele acrescenta a carne e a verdura. No café, o leite. Como alguns diriam, nada novo, mas surpreendente. Ressalte-se, também, o trabalho como importante fator para manter a forma.
No geral, Seo José Francisco, que antes de Castanheira viveu um tempo em Araputanga, leva uma vida simples. Na sua residência, muito bem cuidada, com todas as coisas bem distribuídas e limpas e com dezenas de pequenos quadros de fotos, especialmente de netos, fixados na parede, uma TV indica um dos poucos entretenimentos. Gosta de assistir noticiários e especialmente as missas transmitidas pela TV Aparecida.
Sua esposa, Odete Maria da Cruz, com a qual casou quando tinha 14 anos, faleceu há cinco anos, com 87 anos. Foram 77 anos de uma convivência exemplar. Juntos geraram seis filhos, dos quais nasceram 10 netos e 15 bisnetos. “Nunca os vi brigando”, observa a filha Maria Helena. De José Francisco singulariza a honestidade e o caráter. “Um homem maravilhoso!”, conclui.