Consciência negra, consciência humana e a consciência bíblica

Vivaldo S. Melo

Independentemente do que pensamos no tenso cenário das discussões de temas como “consciência negra” ou “consciência humana”, precisamos deixar de ser ingênuos e de ignorar que na prática, o cristianismo tem falhado, historicamente, sobre a formação de uma consciência sobre raça coerente com o que a Bíblia prega – definindo o amor como mandamento maior nos processos relacionais – e não tem assumido de forma clara seus pecados. 

Na base de processos de dizimação coletiva de seres humanos como índios na América, negros na África e brancos (neste caso as vítimas do nazismo), conceitos teológicos e bíblicos foram usados como embasamento para justificar barbáries. Evito até de falar sobre as bases mais profundas do ódio entre cristãos e mulçumanos, nem sempre lembradas diante de imagens infelizmente rotineiras, que chocam. 

Como o tema é vasto, basta o exemplo do apartheid na África, avalizado por cristãos históricos (holandeses brancos) para justificar o discurso de que “Deus fez os negros diferentes”. Logo, a eles cabe um tratamento diferenciado.

Lógico que muitos cristãos tem se posicionado, historicamente, contra esses pensares. Mas, considerando-se o todo, uma pergunta que não cala, parafraseando Dylan: "Quantas atrocidades serão necessárias pra se perceber que Jesus Cristo, nosso modelo maior, não se enquadra dentro desses parâmetros?"

Por tudo, penso que o ideal seria lutarmos de forma mais intensa por uma consciência bíblica sobre o assunto, em tempos de conflitos raciais preocupantes. A prática histórica da Igreja, contudo, mostra que sempre teremos dificuldades com o tema "todos os povos, tribos e raças", afinal isto passa por um problema maior: a nossa natureza pecaminosa.