Castanheira: A epopeia dos Assentamentos

RESUMO DA NOTÍCIA

Quando as gerações futuras buscarem referências sobre o município de Castanheira, terão que se deter no dia 6 de agosto de 1996. Nele, um grupo de cidadãos começaria o processo de ocupação da área onde hoje existem quatro pulsantes assentamentos
Texto da 7ª edição da Revista Innovare, publicada em Agosto de 2015

“O coração de Castanheira”. Quando a professora Francisca Eliane Stefanes, popular “Pit”, define o que para ela significa a região dos assentamentos, no Vale do Seringal, os olhos de Francielly Dheinys de Souza brilham. Ela foi a primeira aluna da Escola na Nova Conquista, no 3º Assentamento, no ano de 1998. 

Numa roda de conversa participada por Antônio Pereira, o Dilsinho, sua esposa, Wilma Pereira de Matos Nascimento, e a própria Francisca, há um consenso: todos tem orgulho de morar na região, principalmente depois das profundas transformações ocorridas nas quatro regiões, conhecidas como Assentamentos I, II, III, e IV, pelos administradores que sucederam o Dr. Jorge Luiz Arcos, o médico prefeito que em 06 de agosto de 1996 estimulou a ocupação da área, composta de parte da conhecida Fazenda Enco, então tomada por densas matas. Foi ele que articulou as primeiras ações voltadas para a acessibilidade.

O ex-vereador Ivan Justino de Oliveira fala com propriedade do assunto. Ele era um dos motoristas dos primeiros veículos a transportarem aqueles que seriam os pioneiros no Vale do Seringal. Incentivado por amigos, no Bar de Rudi Wiesenhutter, referência de boa prosa no 1º Assentamento, lembra de alguns dos “passageiros” do caminhão caçamba cinza, da Prefeitura Municipal. Não sem antes citar que o prefeito o interpelou, antes da data histórica, perguntando se teria coragem de conduzi-los, uma vez que o projeto de ocupação, baseado apenas na vontade comum daqueles cidadãos de ter um lugar para morar e reproduzir sonhos, tinha seus riscos.  Animado com a ideia, não apenas conduziu aqueles e vários o outros cidadãos, como também conviveu com todos no primeiro ponto da ocupação.

“Marta, Marico, Abigail, Amadeus, Mario Zan, Inácio, Severino, Otávio, Toninho, Demazinho, Lucia, Jessé, Luis, Manoel do Boi, Zé Professor, Jaiminho, João Rosa”, são alguns dos nomes lembrados. Propositalmente, Ivan, um dos preservadores da tradição oral brinca, citando “Jacaré, Tiririca, Arara e Zé Minhoca”, personagens mais conhecidos por seus apelidos hilários.

Se existe uma ou outra discordância nas narrativas, são elementos comuns o fato de que as dificuldades iniciais foram muitas. “Era coisa bruta. Não tinha estrada. A gente aproveitava o caminho feito pelos caminhões de madeireiras. Não era fácil aguentar o pium”, destaca um dos pioneiros que prefere o anonimato pela necessidade de um desabafo: "Muitos moradores do Assentamento foram ingratos com o Dr. Jorge”, argumenta, referindo-se ao pleito eleitoral. É fato também que esses pioneiros tiveram bastante medo. Não das onças, que ainda eram vistas na região. Mas, de homens a serviço de opositores do movimento. Falava-se muito que eles estariam indo na direção dos assentados, especialmente margeando o Rio Vermelho. Diante de tal possibilidade, que nunca se concretizou, eles se revezavam, armados, numa guarita improvisada. 

Apesar dos desafios dos primeiros anos, a boa vontade de todos possibilitou avanços e conquistas. Aos poucos os barracos, a maioria de lona, foram dando lugar as primeiras  casas, os caminheiros improvisados às primeiras estradas e as matas aos campos, onde o gado, hoje, é base da sustentação de mais de sete centenas de famílias. 

(Fotos de Lucas dos Anjos Ribeiro e Jéssica Castelão)