Mato Grosso celebra o jubileu da erradicação da febre aftosa respondendo pelo maior rebanho bovino nacional, com mais de 31,7 milhões de cabeças de mamando a caducando e liderando as exportações nacionais de carne bovina. Em 2020 as plantas frigoríficas mato-grossenses desovaram nos quatro cantos do mundo 452,66 mil toneladas de equivalente-carcaças. Em 25 anos, além do aumento quantitativo houve avanço sanitário e na precocidade do abate.
Até 1995 a febre aftosa era o grande nó da pecuária e focos da doença pipocavam permanentemente em todas as regiões, tanto nas grandes fazendas quanto nos sítios. No ano seguinte, graças ao começo de uma fiscalização sanitária intensa, o cenário melhorou parcialmente. O último foco de aftosa foi detectado em 12 de janeiro de 1996 numa propriedade com 116 cabeças no município de Terra Nova do Norte, no Nortão.
Não houve comprovação laboratorial, apenas certificação clínica – tantos eram os casos. Em Cuiabá, o Instituto de Defesa Agropecuária (Indea) foi notificado e quatro dias depois divulgou o fato. Desde então, nunca mais a doença infectou bovinos mato-grossense, e para efeito referencial 16 de janeiro entrou para a história como sendo o dia da erradicação daquela doença com forte apelo econômico.
Com a aftosa avançando sobre as invernadas Mato Grosso enfrentava barreiras sanitárias e não tinha mercado internacional para sua carne. Seu rebanho era de 14,87 milhões de cabeças com fortes indicativos de expansão, com a formação de pastagens, e com investidores do setor, que voltavam seu olhar para a faixa de fronteira com a Bolívia, Nortão, Chapadão do Parecis e o Vale do Araguaia.
No começo dos anos 1990 o Ministério da Agricultura elaborou o Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa. Em 31 de dezembro de 1979 o governador Frederico Campos instalou o Indea, que permaneceu com atuação reduzida até o começo desse programa de erradicação federal, do qual se tornou executor regional.
Para reforçar o enfrentamento, em 1994 o setor pecuário liderado pela Federação da Agricultura e Pecuária (Famato) criou o Fundo Emergencial da Febre Aftosa (Fefa), que funcionou até 14 de agosto de 2009, quando foi substituído pelo Fundo Emergencial de Saúde Animal (Fesa). O pecuarista Zeca D’Ávila, então presidente da Famato, liderou e dirigiu o Fefa. Mesmo com todo o aparato oficial de enfrentamento da doença, o sucesso da erradicação tem que ser creditado em sua maior parte aos pecuaristas, que sempre cumpriram seu papel de vacinar.
Um calendário de vacinação associado a uma intensa fiscalização sanitária liderada pelo Indea com suporte da Delegacia Federal da Agricultura e a participação do Fefa, sindicatos rurais e sindicatos representantes dos diversos elos da cadeia pecuária criaram uma blindagem para Mato Grosso. Em todas as etapas da vacina o índice de cobertura vacinal sempre ficou acima de 98%. A doença saiu das invernadas mato-grossenses, mas permaneceu infectando do outro lado das divisas com Mato Grosso do Sul, Pará e Amazonas, além da Bolívia que tem fronteira de 983 quilômetros com Poconé, Cáceres, Porto Esperidião, Vila Bela da Santíssima Trindade e Comodoro. O rigor para impedir o ressurgimento da febre aftosa obrigou o uso de rifles sanitários em bovinos e ovinos.
O reconhecimento pelo trabalho e da qualidade sanitária do rebanho aconteceu no ano de 2001, em Paris, quando a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) conferiu a Mato Grosso a certificação de zona livre de aftosa com vacinação. Ou seja, a OIE abriu a porteira do mundo para a carne bovina mato-grossense, o que lhe permitiu invadir as gôndolas do exigente mercado da União Europeia.
Sem aftosa e com o mundo escancarado aos seus produtos, os pecuaristas investiram em cruzamentos, transferência de embriões, melhoria genética do rebanho, manejo para obtenção de precocidade no abate, confinamento, semi confinamento e outras práticas que resultaram na liderança mato-grossense na pecuária nacional.
Com essa evolução e o fim das barreiras sanitárias internacionais por conta da aftosa, as plantas frigoríficas, laticínios, cooperativas e curtumes passaram a ocupar nichos de mercado mundo afora, no país e internamente, com carne bovina com osso e desossada, enlatados, miúdos comestíveis, leite, lácteos e couro.
O montante exportado pela cadeia pecuária mato-grossense em 2020 ainda não foi apurado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, mas mesmo antes da divulgação dos dados a cadeia pecuária comemora tanto seu desempenho quanto o jubileu da erradicação da febre aftosa.