Na recente apresentação de uma cantora evangélica foi dito que a intérprete levou o povo ao "delírio". A expressão é pertinente a propósito de uma das mais claras deturpações que existe hoje na adoração do povo cristão. Obviamente poucos vão concordar comigo nas colocações que seguem. Não me importo. Alguém precisa resgatar o tom profético diante das distorções que aumentam em nosso meio, muitas vezes perpetuadas "em nome de Jesus" e como se fossem verdades incontestáveis.
Embora as emoções sejam importantes e não devam ser cerceadas, elas podem ser perigosas, principalmente quando fluem de ambientes e situações previamente preparados para esse fim. Em grande parte das situações de êxtase espiritual verificáveis nas concentrações religiosas, há um claro processo de condução que envolve música, cenário, entonação de voz, etc. Talvez sem esses elementos as lágrimas, os gritos e outros gestos (como o tal de cair no Espírito), seriam menos observáveis. E restaria, então, a adoração verdadeira, produzida pelo Espírito Santo, a partir de corações realmente contritos e ligados em Deus.
Me vejo pensando nos vários momentos do ministério de Jesus Cristo em que as multidões foram impactadas. Não havia jogo de luzes, músicas envolventes, frases de efeito e nem timbres de voz apropriados, para "tocar" os ouvintes e produzir delírios. Mas, havia a Palavra de Deus, penetrante, sendo compartilhada. E nisto estava o diferencial, indicando a singularidade do grande Mestre. O que emanava em seu ministério era o poder de Deus. E a adoração resultante não era fruto de uma emoção momentânea, motivada por outros fatores. A presença do adorado era o fator determinante.
Não é difícil concluir que vários elementos podem influenciar as nossas emoções e não um único motivo. Basta pensarmos em qualquer filme sem os efeitos, a trilha sonora, os cenários, etc. O enredo teria que ser extraordinário para chamar a atenção, não é mesmo?. Pois o evangelho tem si esse poder de tocar as pessoas. As demais coisas são complementares. Quando, na adoração, o que é secundário assume o lugar mais importante, as pessoas podem estar adorando ídolos. E o delírio nada mais será do que uma mera manifestação da carne e nunca uma expressão genuína de amor e paixão à Deus.
Vivaldo S. Melo