Quando a morte atravessa o nosso caminho, tudo se apaga: o mundo parece perder luz e cor e a vida o seu sabor. Embora a morte possa ser em alguns casos esperada, na maioria das vezes, pedimos para ela aguardar mais um pouco, para que possamos saborear os últimos momentos com quem amamos.
Mais difícil ainda é quando ela irrompe em nossa vida sem pré-aviso. Quanto menos esperado e assimilado, o morrer da pessoa amada é um ato de violência que causa um trauma.
O primeiro sintoma é a sensação de irrealidade. A morte está tão excluída dos processos mentais que ela se torna um objeto “impensável”. A primeira reação da mente diante desse tipo de objetos é negá-los, excluí-los, jogá-los fora, expulsá-los.
O segundo momento, passa por uma reação de raiva, ao constatar a violência com a qual esse objeto impensável “invadiu” a nossa vida.
Tanto a negação como a raiva podem se constituir em fases do luto de caráter mais ou menos duradouro. A ordem dos processos mentais pode não seguir esse roteiro, mas eles tendem a passar por essas etapas.
Passada a raiva e a negação segue normalmente um estado de apatia. As rotinas diárias são cumpridas de forma automática e constituem um trilho que mantém o enlutado no caminho da vida. A “morte” predomina, paralisando o psiquismo, retirando os impulsos em direção ao mundo externo, esvaziando a força da libido. É isto que dá ao viver o luto o seu caráter insípido, vazio, sem destino.
A imagem da pessoa amada se constitui em um fantasma à sombra do qual a mente para. Quando esse sentimento melancólico é muito forte, experimenta-se uma verdadeira paralisia, uma impossibilidade de fazer qualquer movimento em direção à vida.
Esta é a fase mais perigosa do processo, pois pode se prolongar e tender a se estabelecer como um padrão de comportamento, especialmente quando existe uma predisposição melancólica devida a tendências anteriormente estabelecidas na psique.
A volta à vida é gradual. Está muito longe o tempo em que a pessoa enlutada era respeitada no seu processo identificado até pela forma de se vestir. O mundo contemporâneo exige que o enlutado volte rapidamente ao “teatro” de seus compromissos sociais e profissionais, onde dificilmente os outros irão ser indulgentes com o seu luto.
Roberto Girola, psicanalista e terapeuta familiar