Quarta de saudade: Casaldáliga será sepultado

RESUMO DA NOTÍCIA

Dom Pedro Casaldáliga será sepultado nesta quarta, 12 de agosto. Deixa uma história de luta pelos necessitados digna de ser lembrada por todas as gerações.
A data de 12 de agosto vai ter  um peso maior a partir desta quarta-feira no âmbito da religiosidade cristã. Se evangélicos históricos lembram, neste dia, a chegada ao Brasil de Ashbel Green Simonton, em 1859, sendo um dos pioneiros da fé protestante no país, os católicos doravante lembrarão o dia do sepultamento de Dom Pedro Casaldáliga, uma das maiores referências de luta pelos menos favorecidos no país.

Vida e morte, a dialética de cada história. Simonton e Casaldáliga compuseram na mesma perspectiva, o evangelho cristão, sob óticas diferentes. Deste último, um líder presbiteriano disse ao Castanheira News: "Pra mim foi sempre uma referência da prática cristã, ao olhar como Cristo para o próximo necessitado". 
 
O corpo de Dom Pedro Casaldáliga, que morreu no sábado (8) aos 92 anos, em Batatais (SP), será sepultado nessa quarta-feira (12), em São Félix do Araguaia (MT), após o terceiro velório. Primeiro, foi velado em Batatais e até as 12h desta terça-feira (11), as últimas homenagens são prestadas, em Ribeirão Cascalheira.
 
Em Ribeirão Cascalheira, o velório acontece no Santuário dos Mártires da Caminhada, que foi criado pelo religioso no local onde o padre João Bosco foi assassinado em 1976.
 
E, em São Félix do Araguaia, será celebrada uma missa antes do sepultamento. A missa está prevista para começar às 8h desta quarta-feira. Em seguida, haverá o sepultamento no cemitério dos peões e índios.
 
O local foi criado onde capangas jogavam os corpos de peões e índios que resistiam à grilagem das terras, em São Félix do Araguaia. O fato foi denunciado por Dom Pedro.
 
Internação
 
Com problemas respiratórios agravados pelo Mal de Parkinson, Casaldáliga foi levado de Mato Grosso para o interior de São Paulo na noite de terça-feira (4), em uma UTI aérea.
 
Um terceiro exame - complementar a outros dois realizados em Mato Grosso - descartou que o paciente tenha contraído Covid-19.
 
Na tarde de sexta-feira (7), segundo o último boletim médico divulgado, o paciente estava com infecção no pulmão, em um quadro clínico grave e ele respirava com ajuda de aparelhos.
 
História

 
Nascido em 16 de fevereiro de 1928 em Balsareny, na província de Barcelona, mudou-se da Espanha para o Brasil aos 40 anos. Veio como missionário, para trabalhar em São Félix do Araguaia.
 
Pertencente à congregação dos missionários claretianos, foi o primeiro bispo da Prelazia do município – a nomeação, em 1971, partiu do Papal Paulo VI. Dom Pedro Casaldáliga ocupou o ofício até 2005, quando renunciou.
 
Já nos primeiros anos no Brasil, Casaldáliga envolveu-se, ao lado de outros padres espanhóis, na defesa de povos indígenas, ameaçados pela violência dos conflitos agrários e pela expansão dos latifúndios na região.
 
Casaldáliga foi um dos responsáveis pela fundação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ainda na década de 1970. Em 2000, o bispo foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
 
Seu trabalho junto aos índios xavantes, após anos de embate judicial contra latifundiários e produtores rurais, fez com que recebesse ameaças de morte em 2012.
 
Além da atuação pastoral, Casaldáliga ficou conhecido pela produção literária, tanto de poesias quanto de manifestos, artigos, cartas circulares e obras com cunho político ou de temas ligados a espiritualidade, publicadas no Brasil e no exterior.
 
Em 2013, recusou-se a dar seu nome a um prêmio de jornalismo por se opor à nomeação da então secretária estadual de Cultura, Janete Riva.
 
Em 2014, o bispo foi tema do filme biográfico "Descalço sobre a Terra Vermelha", feito por duas produtoras espanholas em parceria com a TV Brasil.

Por essas e outras, essa quarta, 12 de agosto, será literalmente uma "quarta de saudade". 

Com o G1